terça-feira, 26 de novembro de 2013

Como uma festa pode pôr os filhos lavados em lágrimas!



Foi uma loucura a primeira vez que o meu pequeno, agora com quatro anos, na altura com três, recebeu um convite para uma festa de anos de uma miúda da escolinha. "Oh mamã, lê outra vez!". E li e reli e reli... Já perdi a conta às vezes que o fiz. Mas lembro-me bem de estarmos sentados a ver o mar e daquele cheiro a maresia com o areal lotado de gente!
O convite está bem guardado e a ele juntaram-se mais uns poucos entretanto. E a alegria de os receber e depois de conviver com os amigos fora da escola foi aumentando. Até contavava os dias: "Já é hoje? Já?"
Depois ainda foi a mais duas festinhas. Era uma alegria só de ver o brilho no olhar dele a escolher a prenda para oferecer e o brio dele a tentar embrulhá-la e a criar, com aquele jeitinho só dele, um cartão de feliz aniversário. E uma delas até foi muito gira e original: fomos todos ao teatro e quando digo todos, refiro-me aos miúdos e aos pais também. E até os atores cantaram os parabéns à aniversariante.
Mas, como os tempos estão difícieis, não pudemos organizar-lhe uma festa assim ou como as outras a que ele foi num daqueles sítios que os miúdos saltam e brincam com bolas e outros divertimentos até não quererem sair de lá nem por nada. Simplesmente não pudemos este ano. Ainda vimos os preços... O que não quer dizer que não o possamos fazer no futuro. E ele entendeu e festejou na mesma: teve um dia inesquecível, estava feliz. Ainda levou guloseimas para festejar com os amigos noutro dia. Ia tão feliz!...
Mas ando aqui a pensar numa forma de o compensar, muito em breve, com uma coisa que o vai deixar aos saltos e de sorriso de orelha a orelha. E aos amigos também!
E tudo isto tudo para quê? Para dizer que as festas de aniversário têm tanto de alegria como de tristeza. Também podem fazer os nossos filhos sofrer. Quando o vi lavado em lágrimas, porque não o tinham convidado para uma festa, até a mim me "doeu" o coração. "Mas oh mamã, ele é meu amigo. Porque não me convidou?" E lá tive de lhe explicar - e muito me custou vê-lo a chorar assim - que os papás do amigo não podem convidar todos, porque fica muito caro. E que, mesmo que o convidassem, também não poderia ir porque era o dia dos anos do pai. E iriamos passar o dia todos juntos em família. Ainda chorou e chorou e chorou mais um bocado. Mas, nos outros dias não tocou mais no assunto. Ainda bem! Gostava tanto de o proteger destas dores e de muitas que se seguirão, mas a vida é assim... Já vos aconteceu?

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Entre pais e filhos ninguém meta a colher!... Só se pedirmos!


Pode dar barraca!...

Isto de ser mãe e pai tem de tudo um pouco, como na farmácia, bem o podemos dizer! "Para grandes males, grandes remédios", já diziam os nossos avós! Mas, neste caso, não é bem assim! Chega uma altura da vida que as receitas nos deixam doidos. Sim, aquelas que saem disparadas de todos os cantos, como se fossem flechas, que ferem a nossa alegria de ser pais de primeira viagem. Aquelas que tentam deitar por terra todo o nosso esforço de ser os melhores pais do mundo e de querermos ser nós a educar os nossos filhos, porque, afinal, eles são os nossos filhos e quem tem a última palavra a dar somos nós, pais.
Todos querem dar palpites e são doutores prontos a prescrever receitas para tudo, quase tudo ou mesmo nada! Bem dizia: como na farmácia! E, muitas vezes, sem sequer as pedirmos, enchem-nos de tal modo os ouvidos que até bem podem contribuir para um aumento de cera [estou a brincar!]! E até nem é com má intenção! Mas, às vezes, não há paciência!...
Quem foi pai e mãe pela primeira vez já deve estar a rebobinar até à altura em que terá passado por semelhante filme! E começa bem antes da criança nascer. Falta saber se foi uma comédia, aventura ou terror!
É bem preciso saber escutar e, por vezes, o próprio cérebro encarrega-se de filtrar tanta informação bombardeada, de a selecionar e arranjar um caixote do lixo especial para armazenar a que não faz falta nenhuma. Ou, melhor, a que nós achamos que não faz! E arranjar um cinto bem apertado para prender aquela vontade de levantar a voz e até dar um murro na mesa. Mas, a educação fica sempre bem e recomenda-se! De preferência, como um prato bem servido com requinte! E é preciso não deitar muita água na fervura e não deixar entornar o caldo senão está tudo perdido! Lá se vão os modos e a educação toda!
A verdade é que os palpites não se ficam pelos primeiros meses após o nascimento. Se deixarmos, a coisa continua durante muito tempo! Também há aqueles que até nos ensinam alguma coisa, pois convenhamos que nem tudo está mal! E que até nos ajudam nalgumas alturas, porque, verdade seja dita, ninguém nasce ensinado e os filhos não vêm com um manual de instruções. E isto de ter filhos pode ser tão simples quanto complicado!
Mas, é caso para dizer: entre pais e filhos ninguém meta a colher!... Só se pedirmos!... Pode dar barraca!...

segunda-feira, 22 de julho de 2013

O nascimento de uma luz!...


Vestes brancas de um lado para o outro, ruídos de passos apressados e donos de vozes meigas e gestos calmos. No meio de tanta azáfama, uma voz sossegava-me a alma, dona de mãos ternas a acalmar as minhas e de dedos entrelaçados nos meus. Parecia nunca mais chegar o momento, o instante em que iríamos descobrir um novo mundo. E toda aquela ansiedade, atacada por horas e horas de espera. O relógio parecia ter parado no tempo naquela chuvosa manhã de novembro depois de uma noite inteira ali sem ter para onde ir ou sequer poder ir!


Dores que iam e vinham sem dizer quando e como, apenas atenuadas pelo milagre da anestesia epidural e sossegadas pelo olhar ou carícia na minha pele do dono das mãos ternas. E pela voz segura – ainda que também ela nervosa, mas sem o querer transparecer!

E lá fora continuava a chover copiosamente depois de uma noite de relâmpagos a romper o céu enquanto um novo mundo estava tão calmo e quente dentro de mim. Até que, já esgotada, depois de 10 horas de inquietação e ansiedade, com as dores e aquele incansável desejo de beber água. Sim, queria tanto, tanto beber água! Acho que nunca tive tanta sede na vida e ninguém ma dava, porque diziam que tinha de ser mesmo assim! Não fosse o caso de uma cesariana de urgência!

E sem forças fui buscar energia onde já nem a sabia ter. E foi quando ouvi um som encantador como uma melodia e devorei com o olhar uma iguaria que de salgada só as lágrimas tem e que de doce tem tudo para o ser. Mas não é de comer. Ainda assim, os olhos engoliram-na como se o fosse! E a gula era de tal forma tanta, que o meu olhar ficou preso, ficou para ali a deliciar-se como não houvesse pressa, como se todos os relógios tivessem parado no tempo!

E todos os sentidos despertaram para este novo mundo: cheirei um perfume novo, as minhas mãos acariciaram uma nova e aveludada pele e os meus ouvidos despertaram com uma nova voz.

Descobria ali mesmo um novo mundo, mas que não era só meu - porque o momento também é do pai -, que despertou os nossos sentidos e muito mais! E onde todos os dias descobrimos mais e mais… E nos redescobrimos também a nós próprios nesta viagem que é a de ser pais! E já lá vão três anos e meio!...

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Seremos maus pais ao não dizer sempre NÃO?






Eu cá costumo dizer ao meu filho de três anos, em tom de brincadeira, que não temos uma fábrica de fazer dinheiro nas traseiras de casa, que os tostões não crescem nas árvores, etc. Ou então: Os papás estão pobres. Agora não pode ser, temos de comprar comida com os tostões.

São frases que saem disparadas da boca quando ele pede um boneco ou qualquer outra coisa no hipermercado ou no centro comercial que não podemos ou não queremos dar. Sim, porque não se pode transformar num consumista e achar que é tudo fácil e dado. E, muitas vezes, por muito que gostássemos, não podemos dar.

E não é que, algumas vezes, ele entende as nossas justificações? E até responde: "Mas eu tenho moedas e compro-te mamã. Com moedas de vidro!". E soltamos uma gargalhada com tamanha convicção, boa vontade e inocência tão própria daquela idade. Ou então, se não tem o brinquedo que pediu, vai perguntando se pode levar outros tantos que ele vai pegando enquanto testa o nosso NÃO e negoceia, com tanto jeitinho, a ver se ganha a negociação e nos testa a paciência. Também já deve ter pensado para com ele: "Se não levo brinquedos, então levo guloseimas". Sim, porque é capaz de pedir guloseimas ou bolachas em vez dos brinquedos aos quais dissemos NÃO. E lá traz qualquer coisa que pediu para casa...E quem ganhou a negociação? Ora lá está...

Mas, muitas vezes, damos-lhe os tais brinquedos, porque se portou bem e sem fazer qualquer birra.

Estarei a criar um pequeno tirano como aquele que a psicoterapeuta infantil Asha Phillips refere no seu livro “Um bom pai diz não"? Esbarrei hoje com um artigo do Expresso sobre esse livro, onde a psicoterapeuta defende que os pais modernos “estão a criar pequenos tiranos, que não sabem reagir a adversidades porque nunca foram contrariados. Ou então criam crianças medricas, absolutamente dependentes, que não sabem fazer nada sozinhas."

E torno a questionar-me: Estarei a criar um pequeno tirano? Só porque lhe quero proporcionar uma boa vida sem que nada lhe falte? Acho que não. Mas ela tem razão, porque temos de ter cuidado para, um dia mais tarde, não pagarmos uma fatura elevada pela nossa permissividade exagerada. E brinquedos a mais não são comida, não.

Mas não é nada fácil vestir a camisola de pais e não existe uma fórmula certa. E eles nem sequer vêm com manual! Como em tudo na vida, é preciso bom senso e saber dar-lhes a volta. E com isso vem o tal NÃO que os filhos não gostam nadinha de ouvir. E que nos custa tanto dizer e quando o dizemos até ficamos com um frio no estômago e, quantas vezes, com sentimento de culpa!...

Há que impor limites e dizer um NÃO com muita convicção na hora certa para que não estejamos a educar meninos mimados e os tais pequenos tiranos. E repito: só quem é mãe e pai é que sabe bem do que estou para aqui a falar! Há uns anos eu ficava boquiaberta com a birra dos outros miúdos e até dizia para com os meus botões: Ui, um filho meu não me vai fazer isto!

Anos depois, voltando ao presente: Pronto, prontinho, toma lá para não te armares em esperta! Ainda que não aconteça sistematicamente, porque o meu pequeno consegue ir ao centro comercial ou hipermercado sem pedir nada, já aqui o disse.

Mas acho que já aprendi uma lição: ir com ele a esses locais quando acabou de acordar ou mesmo com sono ou se estiver cansado, não é nada boa ideia! Há birra na certa se dizemos aquela palavra que eles não gostam – NÃO – a um pedido de um brinquedo qualquer. Vem o pacote todo à tona: choro impulsivo, espernear -, acompanhado do “MAS EU QUERO”. E de quem é a culpa? Não é dele, com certeza, porque não pediu para o levar naquele estado. Ele é uma criança adorável e muito meiga. E as manhãs costumam correr muito bem.

E ora, vá lá: Atire a primeira pedra quem nunca se desesperou e ficou numa pilha de nervos, num local público, com as birras deles? E quis escavar um buraco ou fugir dali enquanto os outros nos olham com censura? Ah, pois, sente-se um aperto no estômago e sei lá mais o quê!...

E culpa é de quem? Também é minha, admito a minha culpa de mãe de lhe querer dar muito amor e não querer que nada lhe falte!

quinta-feira, 28 de março de 2013

Em busca dos ovos de Páscoa

Quem quer ser criança outra vez? Basta ter imaginação e embarcar nesta viagem...
O coelhinho já chegou.... Veio pela calada da noite e está lá fora, atrás dos arbustos, a esconder os ovos, salpicados de cor, que trouxe na nave espacial em forma de ovo e com sabor a chocolate. 
Vamos correr, correr até encontrar o tesouro que o coelhinho deixou! Vamos? O meu pequeno já encontrou e deliciou-se com os ovos e com o coelho de chocolate branco que fez na escolinha.
E os ovos de Páscoa já estão todos pintados?

terça-feira, 19 de março de 2013

Ser Pai...


Hoje é dia do Pai. 
Sim, Pai com letra grande, porque sê-lo é ser-se grande em todos os sentidos. É estar com as antenas sempre ligadas se é que percebem o que quero dizer... Estar com a cabeça nas nuvens e, ao mesmo tempo, com os pés aterrados em terra. É estar presente nos bons e maus momentos. É também saber estar, ter uma postura muito própria de quem é pai e cada um tem-na à sua maneira, é certo. E, sobretudo, ser Pai, Pai e Pai. E quem o é, sabe bem do que falo. E quem o tem ou teve, também o sabe. 
Mas, na verdade, talvez dê mais valor e perceba muitas das coisas de ser Pai quando o é realmente, porque sê-lo pode ser tão simples como a palavra Pai ou mais complexo ainda como um livro em branco que começa a ser escrito a partir do momento em que se é Pai. E, perdoem-me os Pais - porque hoje é dia do Pai -, mas ser mãe também é assim. É escrever uma história todos os dias recheada de aventuras, com risos e também lágrimas à mistura. É descobrir um novo mundo e aprender com os filhos a ver o mundo pelos olhos deles: rir quando eles riem, chorar quando eles choram, ensinar-lhes regras e a ser um bom amigo, uma pessoa humilde e honesta. É querer enfiar-lhes um capacete na cabeça para não se magoarem ao darem os primeiros passos. É deixá-los crescer, ainda que só nos apeteça levá-los sempre pela mão para não tropeçarem nas coisas da vida e sofrerem.  É deixá-los viver a vida deles quando forem adultos, ainda que nos custe, porque serão os nossos meninos e meninas para sempre. É ser Pai... É quase como viver nas nuvens pela emoção e ter sangue frio para o que vier. Será mesmo assim?

quinta-feira, 7 de março de 2013

A revolta das gaivotas contra a austeridade...



Hoje estava bem pior do que isto!...
 - Vamos voar, mamã?, perguntava o meu pequeno, apanhado por uma rajada de vento que nos deixava quase sem fôlego e nos queria arrastar dali! Hoje estava um desses dias e parecia mesmo que íamos levantar voo como as gaivotas que fugiam do mar para se reagruparem num jardim ali bem perto.
O que não sabíamos é que elas se estavam a organizar contra a crise delas. Sim, também sofrem nas penas e nas asas os efeitos das medidas de austeridade, da Troika…
E não estavam nada contentes.... Eram tantas, tantas, que, de um momento para o outro, já se estavam a manifestar contra o vento, contra o temporal. Não sabíamos bem quem as liderava. Apenas que se tinham organizado num instante. E o vento, lá de cima, que as governa, queria saber quem as liderava, quem as mandou estar ali a refilar. E ficou tão louco, louco, que assobiava furioso e levava tudo pela frente. E lá levámos nós outra vez com uma corrente fria no rosto, que quase não conseguíamos respirar. Fomos empurrados para a frente e parecia que levantávamos voo novamente!...
No meio do temporal, reparámos que as gaivotas não traziam cartazes, nem faixas negras de revolta e de luto. Mas estavam chateadas, ai se estavam. E gritavam, gritavam à maneira delas, porque tiveram que fugir do mar que hoje estava tão furioso!
É bem verdade! O mar hoje estava para isso. Acordou assim: as ondas batiam umas nas outras com tanta robustez e velocidade que via-se logo que não estavam para brincadeiras. E olhem que altas que elas estavam que até olhavam para as gaivotas, as rochas e areia com desdém?... E engoliam tudo o que lhes aparecia pela frente enquanto entoavam um cântico, acompanhado do assobio enraivecido do vento, que até poderia ser a música de fundo do genérico de um filme de terror a antever um naufrágio de uma embarcação qualquer. Não havia como fugir a ele. Estava por todo o lado!
E já junto ao mar percebemos que, afinal, nem todas as gaivotas tinham desertado. Algumas ainda resistiam a saltitar na areia que o vento atirava para o ar e desafiavam-no a ele e à ira do mar. São como a gente rija do nosso tempo que continua a lutar, que continua a arregaçar as mangas em vez de se deixar ir com o temporal no colo do vento e balançar sem rumo ao ritmo das ondas do mar!
Hoje o temporal ganhou. Ainda assim, o vento, que as governa, ficou um pouco preocupado, porque nunca as tinha visto assim. Vai ficar mais manso durante uns dias até voltar a atacá-las com mais medidas de austeridade. Esta é a crise delas. Mas até bem que poderia ser a nossa. Não é verdade?

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Sou pirata. Saqueei um tesouro em tempos de crise.

Todos temos um pirata dentro de nós.
Sou pirata, de pala preta num olho e cicatriz num dos lados do rosto, fruto do combate que travamos contra a crise, por mares talvez nunca antes navegados. Qual capitão Gancho, qual quê? No meu mundo sou dos bons! Segui o mapa que descobri, por acaso, numa das gavetas do meu inconsciente, e de espada empunhada na mão, lutei com bravura - e ainda luto - contra monstros marinhos, governos e fiscais de finanças que se alimentam do nosso dinheiro. Fui ao leme do barco da vida a fazer contas de multiplicar e somar para o orçamento, ao final do mês, esticar.
E saqueei um tesouro só para mim. O de amor de um filho e de todos os que nos são mais próximos que não se compra com dinheiro algum. Apenas com o coração e muita dedicação. E com todo o tempo do mundo que possamos dedicar-lhes sem reclamar nada em troca, sem reclamar um tostão. Na arca deste tesouro guardo, a sete chaves, a fortuna que saqueei: os beijos, os miminhos, alguma dignidade e ainda coragem para dar a volta à crise. Mas, cuidado, que este é um tesouro que temos de alimentar para nunca ficarmos pobres. 
Sou pirata do meu mundo. E isso não tem preço. Não tem, não, por muitas contas de subtrair e multiplicar que façamos na gestão do orçamento familiar.
Mas todos ou quase todos temos uma nova cicatriz no coração de não sabermos que futuro iremos dar aos nossos filhos. De vermos o dia de amanhã enevoado, de vermos tantas injustiças por esse mundo fora e crianças sem amor de mãe e pai. Desafortunados sem teto para dormir, gente bem vestida, sem roupa rota e suja, a vasculhar o lixo alheio à procura de comida - já o vi – e vocês, de certeza, também. 
E todos os dias há quem lamente, numa casa bem perto da nossa, por não poder ir empanturrar-se no restaurante mais badalado da zona. Há quem choramingue ou bata o pé por ter o armário despido de roupa da última moda, a sapateira desprovida das botas do último grito ou não poder ver o concerto do artista X e Y. Ainda que, às vezes, até apeteça dar um grito de revolta e bradar aos sete ventos: “Vai-te embora, maldita crise! Vai com o vento para outras paragens! Não te queremos por aqui”. Mas ela é tão teimosa que, vejam lá, até simpatiza com todos ou quase todos nós. E até pede para ser nossa amiga no Facebook.
Mas, pensando bem, sou milionária de sentimentos. Tenho um tesouro que não tem preço, já o disse aqui.
Sou pirata e heroína do meu mundo. E todos temos um herói dentro de nós. Por isso, há que levantar todos os dias de cabeça erguida e exclamar sem pena de nós próprios: Que afortunados que somos. Temos um tesouro só para nós!...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Quem quer plantar uma Gormiteira?



Os frutos que não se comem...
Cá em casa temos uma gormiteira carregada de tazos Gomiti, com os bons e os maus da fita da ilha de Gorm, da série televisiva Gormiti. Não é fruto que se coma, mas os olhos já os devoraram umas tantas vezes desde que nasceram naquela árvore. A sensação inicial é de estranheza por aqueles seres de tão pouca beleza natural à primeira olhadela e, como tal, não tão saborosos. Isso é o que parecia!... Mas, com o tempo aprendemos a saboreá-los como frutos exóticos e raros que são, porque são um tesouro para o nosso filho. Ele também coleciona os bonecos, mas isso fica para outro post.

Hoje dou comigo a pensar se apanho os ditos frutos dos raminhos, que já estão bem maduros, e que adornam uma jarra de papel de que tanto gosto, habilidosamente criada por pessoas com deficiência a quem deixo aqui todo o mérito. Ou se os deixo ficar para o meu petiz não ficar desiludido por danificar a gormiteira que ele plantou com tanto carinho e orgulho. Foi quando decorámos a árvore de Natal, "a árvore verde", como o meu filho a chama, com caezinhos peluche e outra tanta bonecada ao gosto dele que se lembrou de decorar os raminhos mais ao lado, tão despidos na altura. Escolheu os tazos com os Senhores da Natureza que lutam contra o mal e ainda os maus, é claro! Tínhamos que recriar a história!
Em minutos, furámos e pendurámos aquelas preciosidades.O rosto dele iluminou-se e apercebi-me logo de como as pequenas coisas, as mais banais, podem ser tão originais e fazer tanto sentido. Como o de fazer uma criança soltar gargalhadas depois de plantar uma gormiteira e querer ir a correr mostrar ao pai o seu feito.
O Natal já lá vai, mas a gormiteira é para ficar. É um acessório de decoração cá em casa, talvez o mais especial e original de todos. E porque não?...
Para quem não conhece os Gormitis: https://www.youtube.com/watch?v=58gRilufz6c

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

À espera que a vida aconteça

Às vezes parece que estou aqui à espera do momento em que a vida vai começar a acontecer. Deixo-me invadir pela inércia e fico a imaginar os momentos grandiosos que o futuro nos reserva. Em algumas ocasiões, chego mesmo a desejar que estes dias passem muito depressa, de forma a chegarmos rapidamente ao dia em que tudo vai fazer sentido e sejamos plenamente felizes.
Hoje, perdida num desses pensamentos tolos, sinto um puxão nas minhas calças e reparo surpreendida que o T se levantou sozinho. Contente com o seu feito, esbraceja até cair no chão novamente. Não faltará muito para andar sozinho.
Foi aí percebi que é o AGORA que importa. Nem sempre é fácil e há dias incrivelmente frustrantes! Mas há sempre um sorriso ou uma nova palavra. Cada dia, ainda que monótono, tem pelo menos um minuto fantástico. Isso há-de contar para alguma coisa, ou não?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Filho, um amor eterno...












Sentei-me numa esquina envidraçada a deslumbrar as ondas do mar emaranharem umas nas outras, a entoarem um cântico que nos pacifica a alma e segrega mil e um desejos aos ouvidos. Fiquei a ver as ondas dançarem ao ritmo de um abraço e beijos gelados nos rochedos húmidos ali atracados sem terem como fugir. E fiquei ali a pensar como somos felizes quando vamos juntos ver o mar, quando brincamos de ancinho e balde na mão, e esculpimos castelos na areia molhada. Quando mergulhas os teus pezinhos de seda na água e regas os nossos com gotas salgadas enquanto soltas gargalhadas e a tua cara se ilumina como raios de sol. E como somos afortunados - ainda que sem tesouros dos piratas de que tanto gostas e sonhas -só por ver-te correr e pontapear a areia atrás das gaivotas que teimam em fugir de um abraço teu, e ver-te afundar apressadamente os teus graciosos dedinhos dos pés com uma queda ou outra pelo meio.
E digo a mim própria como somos felizes por sermos crianças contigo outra vez, por podermos pular e salpicar o corpo com areia como tu, meu Arcanjo, enquanto nos mostras o mundo pelos teus olhos!... E penso novamente como é delicioso ouvir-te exclamar: "Quero sentar-me ali a ver o mar!" E com um brilho nos olhos, sorrio com um sorriso teu, estico os dedos para carinhosamente afagar os teus caracóis de ouro e deliciar-me com o teu mágico "olhar de encantamento" como tu sabes bem fazer... E presenteio-te, ou melhor, presenteias-me a mim, com tantos miminhos e beijinhos que fico sem palavras, com coração sereno e com tanta paz de alma que, por minutos, me esqueço do mundo e dos problemas da vida!...O amor que um filho nos dá não se mede aos palmos. O amor por um filho pode tão bem ser assim!... Uma dádiva de Deus?...

.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Ser Tiago em Santiago

São cinco da tarde e o sol desprende-se das nuvens que o esconderam durante quase todo o dia, dando à Cidade Velha uma luz dourada que a iluminará por exactamente cinquenta e seis minutos, até mergulhar decididamente no mar. De um lado, meia dúzia de miúdos chutam a água em frente aos barcos que já voltaram da pesca, aproveitando os últimos raios de sol de um dia quente de Novembro. Do outro, duas mulheres lavam roupa no mar e estendem-na nos calhaus. Ouvem-se as vozes das gentes que ao fim do dia se juntam na praça do pelourinho.
Estou sentada no Teruro di Kultura, um café com uma simpática esplanada naquela que foi outrora a primeira cidade fundada por portugueses a sul do Saara. Vim para fotografar, mas deixei-me invadir por uma vontade irresistível de olhar. Apetece-me ficar quieta a imaginar por onde terão entrado os piratas que saquearam a cidade nos séculos XVI e XVII. Ainda nem me sentei, quando os meus pensamentos são interrompidos por um choro miudinho que não tem nada de crioulo. O Tiago acordou e, com a autoridade dos seus seis meses, não parece disposto a partilhar a minha atenção com um pôr-do-sol que tinha tudo para ser avassalador.
 Viajar com crianças pequenas é mesmo isto. É perder “aquele” mergulho nas águas cálidas do Tarrafal, porque o sol está forte. É deixar fugir a Passadinha, porque ele se engasgou (ou não!). É não sair do carro na Serra da Malagueta, porque ele tem fome. É adiar para sempre uma conversa irrepetível, porque ele tem sono. É antever momentos únicos, passar-lhes ao lado e sonhar com eles ao adormecer se a noite for calma.
Mas não é só isso. É também ver os olhos dele brilhar ao molhar os pés no mar pela primeira vez, ali na praia de São Francisco, e a fechar-se enquanto passeamos ao longo da praia Gamboa. É descobrir sítios improváveis cada vez que suja a fralda e pessoas genuínas que nos acolhem com simpatia e generosidade. É partilhar a sua excitação com o primeiro banho de piscina e a sua serenidade ao ver o pôr-do-sol no bar do hotel Praia Mar, que, ainda que mais modesto que o da Cidade Velha, nos mostra a imponente ilha do Fogo a erguer-se por detrás da praia de Quebra Canela.
 E é ainda mais. É ajudá-lo a segurar na mão de uma menina crioula que nos segue durante quase uma hora no mercado de Sucupira. E vê-lo repetir a proeza dezenas de vezes com todos os outros meninos e meninas que vamos conhecendo nas ruas da Praia. Com o passar dos dias, é ele que tem que os ajudar a vencer a estranheza que mostram por nunca ter visto nenhum bebé branco. Como a Kelly da Calheta de São Miguel, por exemplo, ou a Natalina que costuma estar no Plateau com a mãe Gutu. A Kelly põe-se em bicos de pés para espreitar para dentro do carrinho e volta-se para a mãe, boquiaberta, fazendo tardar o “ajunta mô”. Enquanto isso, eu e a mãe dela conversamos sobre o aparecimento dos primeiros dentes e sobre a sua precoce aquisição de marcha aos sete meses. Já a Natalina, que vai fazer dois anos na véspera de Natal, é mais atrevida e quer passear o Tiago nas imediações do mercado, ou mexer-lhe nos pés testando-lhe o riso. Gutu, atrapalhada, pede desculpa pela filha, que vai soltando gritinhos de alegria. – Cá tem problema!, respondo-lhe eu procurando um olhar cúmplice.
 Viajar com o Tiago é descobrir o mundo enquanto ele se descobre a si próprio. É mostrar-lhe que, sozinhos, seremos sempre pequeninos. Por isso, devemos procurar um amigo em cada sorriso devolvido.

Imaginação. Precisa-se em dias de chuva...

Eram muitos, mas já foram!...

Imaginação? Precisa-se e muita em dias de chuva para entreter os miúdos para não ficarem molengões no sofá ou chutarem a bola contra a televisão e acessórios de decoração. Eles ainda se rebolam um bocado no sofá a ver um filme, mas não queremos crianças demasiado paradas, pois não? Ou a bugiganga em pedaços quando se lhes dá corda? O meu hall de entrada, de tão comprido que é, já se tornou o campo de futebol caseiro, a passadeira vermelha oficial para chuta daqui, chuta dali. “- Anda mamã, anda papá. Atira a bola!”, e lança uma gargalhada de tão feliz que está. E distrai-se como a emoção e lança a bola para a cozinha e lá vem ela bem alto: “Vês, mamã? magia!” E a culpa é de quem? Do frigorífico ou das panelas que esbarram na bola, ora essa…
Num destes domingos saiu-nos na rifa a pintura: o meu Arcanjo pintou um quadro com uma habilidade que é só dele, com o pincel na ponta dos dedinhos mágicos, astutos e tão vivos de imaginação. Ficou lindo e muito expressivo com a assinatura de um artista com apenas três anos. Ontem, a vencedora do dia foi a culinária. Com os seus ternos dedinhos e um olhar de quem sabe tudo, o petiz meteu a mão na massa e fez uns bolinhos de coco que fizeram as delícias da barriguita antes do jantar. Não se devia, eu sei… Mas ele tinha mesmo de os provar! Agora restam poucos e as migalhas, é claro!...

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Deixar a fralda a quanto obrigas…

Isto do chichi tem muito que se lhe diga! E o desfraldar também. Pode ser uma dor de cabeça quando toda a gente quer dar palpites mesmo que nem sequer tenhamos pedido. Ou se eles não estão preparados para isso, pois não é porque o primo, ou amigo de X ou Y já deixou a fralda que temos de obrigar o nosso a fazer o mesmo. Há que respeitar o ritmo deles. Eles até pedem!
Mas pode ser uma dor de cabeça quando eles insistem em marcar território em cantinhos da sala como se fossem um animal de quatro patas. Mas até aqui tudo bem. É normal, porque depois de meses e meses a fazer chichi e cocó na fralda, não é nada fácil mudar de um dia para o outro de rotina e, sobretudo, ter público na primeira fila a aplaudir ou a ralhar. Esta última não é nada aconselhada, porque os intimida ainda mais. Há que os incentivar: és capaz, que lindo, muito bem, palminhas!...
Isto de ir ao pote ou à sanita tem muito que se lhe diga, é verdade. Há quem, milagrosamente, se gabe de o garoto ou garota ter conseguido tornar o pote ou sanita o melhor amigo de um dia para o outro. Ui que sorte a deles que não tiveram de andar de esfregona numa mão e balde na outra umas tantas vezes ao dia para limpar o chichi ou de pano com detergente de cheiro intenso para tirar aquela fragrância do sofá que dias depois insiste em permanecer por lá. Ou se o pequenote, distraído com a brincadeira, fizer chichi na toalha de praia de uns amigos até as nossas maçãs do rosto corarem e sentirmos, imaginariamente, um buraco escavado na areia para nos enfiarmos lá… Ou fazer o dito cocó na cuequinha debaixo da mesa dos avós enquanto se janta? Quem é que nunca passou por isto ou ainda pior? Faz parte do crescimento deles e também do nosso. Nosso, sim, porque crescemos e muito… Já não nos envergonhamos com tudo isto e passa a ser o prato do dia ser apanhado desprevenido em qualquer situação mais constrangedora. Até que, realmente, de um dia para o outro, pedir para ir à casa de banho passa a ser tão normal como pedir uma bolacha ou iogurte. Eu cá preferi logo o redutor na sanita: mais higiénico e eles acham logo que são crescidinhos, porque usam a sanita como nós, os grandes. E até usam cuecas com os heróis de BD preferidos. Daqui a uns anos ou já nem nos lembramos de todo o frenesim ou vamos desatar às gargalhadas!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Xixi

A coisa mais normal do mundo e não há ser humano ou animal de quatro patas que não o faça. Já o fizemos na cama em bebés, mais garotos e na velhice não sabemos e nem queremos imaginar o que nos espera. Vamos ao que interessa: bebés e quando é muito e vaza da fralda.
Lá vão os pais a meio da noite a esfregar um olho e a piscar o outro com a remela a espreitar, a bocejar de tanto sono, de não só ter de mudar a fralda, como o lençol e até o edredão quando a coisa corre mesmo mal. Quem é que nunca passou por isso? E se o bebé beber muita água ainda pior – o meu bebia e ainda bebe – então passa a ser rotina diária acordar de 3 em 3 horas ou menos com a criança aos berros a pedir água do biberão ou com a fralda tão cheia, tão cheia, que mudar é a única solução. De manhã o dia continua, trabalhar cheio de sono e com a cabeça tão distraída de cansaço que as ideias às vezes nem afloram.
Um dia, alguém me deu uma receita luminosa que ainda hoje - e o meu pequeno já tem três anos - uso religiosamente quase como prescrição médica. Aqui vai: duas fraldas uma cima da outra, mas a última um tamanho acima bem justinha. Muitas vezes, meto as duas do mesmo tamanho e a coisa até corre bem. Agora está muito melhor. As nossas noites de sono são maiores, não só pela receita, mas também porque ele está mais crescidinho. Nós agradecemos e a almofada também…